Como prometido estou
de volta para falar um pouquinho mais das primeiras impressões e experiências na
terra do tio Sam. Esse post vai tratar de um momento que sem dúvida foi o mais
interessante e importante até agora, para muitos iria passar despercebido ou
apenas gerar um pouco de “affff sério?”, mas para mim teve algo a mais. O que
ele teve de tão relevante assim? Ele me deixou inquieta, e acredite, o que te
incomoda te faz mudar de alguma forma.
Logo na primeira
semana nós tivemos algumas reuniões e encontros no inglês, e uma das palestras
que vimos tratava a respeito de estereótipos “aí americano só come fast-food”, “todo
brasileiro sabe sambar”, “foi do oriente médio é terrorista”; enfim, inúmeras
coisas que escutamos, pensamos ou falamos de modo a generalizar e taxar
(erroneamente) um determinado povo ou cultura. Mas até então tudo bem, afinal,
não achava que tudo era assim... até que vem o momento relevante a ser descrito.
A situação era a seguinte, primeiro dia de aula, aquela coisa de “vamos
conhecer o coleguinha”, e o professor pedindo para fazermos duplas. Em seguida,
tínhamos que dizer nome, nacionalidade e duas coisas que tínhamos em comum com
a pessoa. Tudo muito legal, não lembro quem fez trabalho comigo (não vou
mentir), então não posso falar nada a respeito, até que um garoto mulçumano que
fazia trabalho com outra mulçumana (sim, minha sala tem 13 alunos e 11 deles
são mulçumanos) disse: professor, não temos nada em comum, afinal ela é mulher
e casada; eu sou homem e solteiro, então somos totalmente diferentes.
Bem, então, a primeira
coisa que me veio a cabeça foi “WTF, como assim vocês não podem ter nada em comum?
Música, comida, religião, isso não conta não? Em que mundo vocês vivem?”. A
segunda coisa que me veio a cabeça foi “machista FDP, diaxo de mentalidade
atrasada. Ouvindo isso eu entendo porque tantas vezes temos visto casos
absurdos na TV, mas pq? pq? pq nesses lugares as mulheres não tem valor nenhum
mesmo”, AHAAAAAAA ai que começou a “descoberta” que precisei de 2 dias de reflexão
para ter e entender. Quem me conhece sabe que sou paz e amor, não me importo
com sua classe social, raça, credo, opção sexual; o que me importa é quem você
é de fato, e não acho que podemos/devemos julgar ninguém por aparência ou muito
menos devemos fazer generalizações. Esse foi justamente o problema, para quem
se diz “tolerante”, soa bastante controverso generalizar e no primeiro contato
ter raiva, sim esse foi o sentimento, de alguém e de sua cultura por conta de
uma única opinião, mesmo que tenha sido uma opinião infeliz ao meu ponto de
vista. Resultado, 2 dias pensando “porque você está pré-julgando alguém, quem ê
você para fazer isso?”
Em resumo, qual foi o
aprendizado, além de ver uma sequela de semi-retardo mental em mim mesma? Vi
que não sou tão tolerante quanto pensava, e que essa desagradável surpresa precisava
me levar a uma mudança. Me dei conta do quanto é fácil sentirmos aversão a algo
e a alguém que pensa ou age diferente de nós; mais fácil ainda pensar, falar,
ou agir de modo a feri-lo; e o conjunto dessas coisas só nos leva a brigas,
guerras e inúmeros conflitos, os quais já temos de sobra então não preciso
citá-los. Mais que isso tudo, me dei
conta que tudo o que não está no nosso dia a dia nos causa estranhamento, por
isso não é tão difícil assim entender a razão de termos esses bons e velhos
intolerantes, afinal, podemos não ver, mas cada um tem seus preconceitos e suas
intolerâncias. Claro, imagine você sendo criado em uma estrutura familiar “X”,
com uma cultura “Y”, isso pode não determinar quem você será, mas será
significativo na sua vida, em aspectos morais, éticos e ideológicos. Se você não se expuser ao diferente sempre irá
cair no erro do “Pré-julgamento”, ou seja, julgará algo que desconhece, e o
problema disso... simples, você VAI errar, mesmo que pouco, mas vai. Por isso a
dica que dou é simples, vá para a rua, caia no mundo, conheça pessoas, mas sempre
faça isso de mente aberta, pois se não, você irá julgar, julgar, julgar e nunca
vai entender o significado das coisas e o valor real das pessoas.
Ahhh o que aconteceu
depois? Bem, depois de resolver que precisava CONHECER quem estava por trás de
cada rosto e atitude, fiquei amiga do cara que falou que “no país dele, homens solteiros
e mulheres casadas não tem nada em comum” e percebi que por trás de todo mundo
tem uma história, e estou buscando conhecer essa história e essas culturas tão
diversas. Nessas semanas pude ver e escutar sobre o que eles pensam sobre seus
governos, sua religião, e o mais interessante, escutei o que eles pensam sobre
o estereótipo de que “é do oriente médio, é terrorista”. E sem dúvida alguma,
essa foi uma conversa interessantíssima, pois vi a posição de vários deles a
respeito de seus países e de países vizinhos, e pude escutar um... não diria
revoltado, mas talvez preocupado “as pessoas não entendem que eu também quero
paz, eu também quero ser feliz, e não machuco ninguém para isso. Por conta de
alguns, e principalmente, os vindos de país X, temos que conviver com as
pessoas nos taxando de terroristas”. É isso ai, lá fora existirão pensamentos,
cultura e ideologias muito diferentes das suas, as vezes elas irão te revoltar,
enfurecer, parecer sem cabimento, mas nem por isso devemos nos fechar para a
oportunidade de conhece-las e até passar a admirá-las.