Aêêêê agora já se passou quase um mês da estadia em solo
americano, nada mais justo que tomar vergonha na cara e voltar a escrever um
pouquinho para tentar descrever a experiência. Vou tentar falar de tudo um
pouco, desde quando saí de Natal, até agora, nesse domingo chuvoso que não quer
deixar ninguém sair da cama.
Logo quando entrei na sala de embarque eu pensei – e agora
José? Não falo fluente; ia pegar meu canudinho lindo ainda esse ano; TCC
coitado, lascou-se; nova terra, nova vida – de primeira me bateu uma carinha
preocupada, meio sem saber o que tinha pela frente, mas em Guarulhos tudo
mudou. Chegando em Sampa eu me dei conta da aventura que teria pela frente, “corre
se não a gente perde o voo” dizia Ricardo (o outro potiguar que veio para a
Penn), e a partir daí foi só diversão, corre pra lá; engole o sanduíche; se
encontra com sua nova família, vulgo “outros CsFers”; e lóóógico pega o beco
pra a outra América.
Se sentindoooo em voo internacional, aquela coisa chique com
tv, comida que preste, a perna formigando... essas coisas, aí vem a parte
divertida, saindo do avião senti o frio dando um “Oi gata” e comecei a brincar
com o arzinho que saía da minha boca enquanto falava. Depois fomos para a
imigração, primeiro vi aquela ruma de gente fardada, uma criatura de 2 metros
olhando “cara-crachá, cara-crachá” com o passaporte, e pensei “e se o cara me
pergunta um negócio e eu não entender?”. O fato é que fizeram um bicho de sete
cabeças para algo simples e rápido, saí de lá de boa na lagoa, até pegar a
minha mala. Quando fui pegar a mala para despachar, “ah le-leke-leke-leke” a
mala tava aberta, e mais, rasgada... ah claro, ainda levaram o meu cadeado TSA
bunitinho (passei o resto da viagem com um cadeadinho fofo do Mickey) e não deixaram nem bilhetinho (deixaram bilhete na mala da Regina, fiquei
com inveja). Mas tudo bem, é isso aí, a vida e seus imprevistos, e lá fomos nós
pegar o último voo, aquele que nos trouxe para a Filadélfia. Chegando a Pensilvânia
uma coisa já me encheu os olhos ainda no avião, estava nevando ou ao menos
tinha nevado, e aquela paisagem branca me encantou, quando saí do aeroporto e
cheguei em minha nova moradia, lógico que não podia deixar de pegar na
branquinha e ficar brincando de perder a mão por hipotermia.
Bom, se eu for contar o dia a dia completo o negócio não
termina então vamos ao ponto que interessa, o tal do Choque Cultural. Você viaja e pensa que tudo vai te surpreender, vai ser difícil se adaptar a
temperatura, comida, língua... então, o ser humano adora sofrer antes da hora,
mas aqui vão as minhas impressões. Deixando claro que isso é altamente
variável, talvez minhas reações se deem em grande parte a minha entrada de
cabeça a experiência, e o resto, bom, o resto que exploda.
Comida: americano não tem essa culinária toda, a comida
nunca tem o gosto da comida caseira, coisinha da vovó. Mas nem por isso aquela
ideia de que nos EUA só se come fast-food é verdade. Nos restaurantes da
universidade tem de tudo, até comida vegana, por sinal como mais salada aqui do
que no Brasil. E na rua tem de tudo e mais um pouco, trailer é o que não falta, tem de comida
chinesa, árabe, grega, diversidade e mas diversidade, e é isso que faz com que eu não
deteste a comida daqui, até por que eu provo o que tiver pela frente (mas o sabor da comida brasileira é melhor de fato).
Língua: não tive choque nenhum com isso, e olha que converso
com árabes (pronuncia ruim da mulesta), japoneses, espanhóis, americanos óbvio,
e mais um monte de gente. Maaaas, nem tudo são flores, acredite, os negros
falam um dialeto que meu filho, meu filhinhoooo, que é que é aquilo senhor...
é, aí já é um nível hard demais para mim.
Cultura: não teve nada até o momento que eu tenha me
assustado e dito UAU que diferente, ao menos não com relação a cultura americana,
não tem nada tãããão diferente assim nos hábitos e costumes, existem diferenças,
mas nada que tenha me feito pensar muito a respeito. Deixando claro uma coisa,
o mesmo não vale para o pessoal de outros países e que estão aqui, principalmente os de origem oriental. todo dia aprendo
algo novo sobre a cultura deles, mas isso é assunto de outro
post.
Frio e a neve FOFALINDA: só amores, só digo isso. Brincando
gente, não vou mentir, aqui em Philly venta muito, e muito é tipo, muito mesmo,
do tipo que você está andando na rua e o vento começa a misteriosamente fazer
com que você não consiga mais andar pra frente e tenha que se
segurar para não
cair. E não ache que isso é só as vezes, aqui é sempre, os nativos sempre falam
que o problema de Philly é o vento e não o frio, e eu concordo, o frio não me incomoda,
mas o vento corta, doí e não adianta com que roupa você saia, ele sempre vai atravessar
todas as barreiras até te causar um sentimento estilo “agora eu sei o que o
Jack sofreu no Titanic”. Apesar disso, eu tenho que dizer que é melhor isso que
a sensação “leitão à pururuca” que sinto ao andar no sol de Natal.
Bom, moral da história, não foi tão assustadora ou estranha,
não foi tão difícil ou desafiadora essa nova jornada que se iniciou em minha
vida. Saudades, isso vem as vezes para dizer que seus amigos e familiares são incríveis
e que você os ama. Contudo, você pode descobrir novos amores aonde você estiver;
você pode ser feliz em outros lugares; você pode aprender dia após dia, independente
de quem esteja ou não ao seu lado; você pode sorrir que nem criança, não
importa se está no Skype falando por 3h com os amigos fofos (saudade DaniDani)
ou se está vendo peixinhos coloridos em um aquário. O que importa é como você
se comporta e se entrega, o quanto você está disposto a arriscar e se
aventurar, o quanto você está com fome de cultura, amigos, experiências e
emoções. Uma coisa que aprendi, e que dia após dia tenho exercitado, é que para
você começar algo novo você não pode esquecer o antigo, mas também não pode
deixar de cortar algumas amarras, temos que entrar de cabeça e experimentar
tudo, por que o mundo tem muito mais a nos oferecer do que pode parecer. Por
trás de seus colegas de sala existem pessoas com histórias e tradições incríveis,
por trás da rotina existe uma vida cheia de cores, sons e emoções, nem sempre
boas, mas sempre diferentes. Por isso, não ache que a felicidade é exclusiva de
um lugar, porque o mundo pode sempre te surpreender e encantar.


